PRÉVIA da TRILOGIA

Enquanto se discute se o tratamento com células tronco é legal ou ilegal, centenas de pessoas estão impossibilitadas de pelo menos tentar melhorar sua qualidade de vida, em um país onde seu sistema de saúde é insatisfatório. Não há investimentos significativos em pesquisas relacionadas a doenças degenerativas que possibilitem ao paciente dessas doenças

verem uma luz no fim do túnel.

Eles vivem com os dias contados. A maioria, que ainda pode, fica o dia inteiro na Internet buscando ver se já existe algum tratamento liberado para o uso dessas células em seu tratamento.

Hoje, a maioria das pessoas que tem um pouco mais de recursos, está viajando para a China, Tailândia ou até mesmo para o México, em busca das aplicações de células tronco, pois nesses países esse tipo de tratamento já está liberado.

As autoridades de saúde pública dos Estados Unidos, onde as pesquisas estão mais avançadas, ainda não permitem o uso dessas aplicações em seres humanos, devido ao tempo de pesquisas ser ainda muito curto e não permitir que se tenha uma resposta concreta sobre os efeitos colaterais.

O que são efeitos colaterais para quem está com os dias contados? O que são efeitos colaterais para quem já está à espera da morte? Os que sofrem imaginam que é muito fácil decidir sobre o uso de uma droga dentro de um gabinete governamental, enquanto tardam os resultados das pesquisas até que surjam ao longo do tempo as confirmações, sejam positivas ou negativas . Entretanto, diga isso a uma família que está com seu filho, ou sua filha há alguns meses ou dias para perder a vida.

Diga  isso a uma filha ou a um filho que está vendo seu pai ou mãe definhando em uma cama esperando se a aplicação de células tronco vai ser liberada ou não.

Eu estive visitando um hospital, durante uma viagem à Tailândia e o que vi por lá, aconselho a qualquer pessoa que tenha algum recurso a fazer o tratamento que o hospital oferece com o uso de células tronco. Difícil saber se todas aquelas pessoas que vi e com quem convivi iriam ficar curadas, mas eu vi lá profissionais responsáveis, dando todo tipo de assistência àquelas pessoas esquecidas pelo mundo. Vi muitos chegarem desacreditando completamente de tudo e saírem rindo e conversando. Entretanto, tudo que é feito ali, parece mágico, pois é reconfortante, ver surgirem amizades entre pessoas que foram para lá pelos mesmos motivos. Lá, ninguém tem vergonha, medo ou ansiedade. Conversei com pessoas que já estavam fazendo a terceira aplicação, cheias de ânimo.

Elas estavam ali pagando, realmente, uma pequena fortuna e não seria a troco de nada. Conversei com cerca de 30 pessoas que passaram por ali na temporada em que fiquei a analisar aquele estabelecimento. A única reclamação era apenas sobre a culinária, porém, quando o paciente reclamava, a nutricionista sentava-se com ele e ia mudando o cardápio, adequando a cada pessoa..

Quantas pessoas ali me disseram que a única coisa que fazem há anos é juntar dinheiro para trazer o filho para uma nova sessão de aplicações de células tronco. Eu conversei com uma pessoa, após a terceira aplicação, das oito que estavam programadas para aquele mês, dizendo-me que já conseguia enxergar as horas com o olho que antes estava praticamente cego. No entanto, me confidenciou que antes não acreditara no efeito do tratamento e que viera ali por insistência de sua filha.

Então por que privar as pessoas de ter esperanças? Elas podem ir àquele lugar por vários motivos como: tentar ganhar mais alguns dias de vida, melhorar sua autoestima, sua qualidade de vida. Enquanto vivem a esperança, conhecem novos lugares, fazem novos amigos, trocam experiências. em um lugar onde quase todos estão na mesma situação.

Portadores de doenças degenerativas precisam fazer alguma coisa que não seja a de contar os dias que ainda lhe restam. A vida, unida ao tempo, são os bens mais preciosos que uma pessoa possa ter e, enquanto existir vida, haverá tempo. Li um artigo, em uma dessas centenas de revistas que andei pesquisando, que as pessoas viajam para lugares como esse hospital na Tailândia, em busca de falsas esperanças. Pergunto-me, com que autoridade um profissional vem a público, falar em falsas esperanças para pessoas que estão em estado degenerativo? Esperança só tem um sentido e isso ninguém tem o direito de tirar do ser humano: o sonho de tentar melhorar, ou de ir buscar a cura .

O que quero mostrar com isso, é que é preciso urgente tratar essas pessoas que estão numa espécie de corredor da morte sem ter cometido nenhum crime, com respeito, com mais dignidade e principalmente com a melhora de seu bem estar.

Aqui no Brasil muitos desses pacientes não terão a chance de conhecer o maravilhoso paraíso como o hospital que mencionei e sobre o qual falarei com mais detalhes em outro capitulo, Entretanto, se não podemos ter tratamentos com células tronco, ainda podemos ter o que muitos hospitais brasileiros excelentes oferecem com eficiência, como acompanhamento de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, neurologistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais, para dar uma vida digna a essas pessoas que nestes últimos dias de vida, só precisam de carinho, atenção e boa vontade. Alguns desses hospitais até aboliram dias e horas de visita para que os familiares possam ter acesso a qualquer momento aos entes queridos hospitalizados. Acima de tudo, é vital lutar contra a desesperança.

 

Paulo Castelo Branco